Por Fabiano Assunção
Uma boa bebida destilada é um universo de prazeres. Quanto mais nos aprofundamos no conhecimento de suas características, novas dimensões se abrem na percepção e apreciação de cada detalhe do tato, aroma e paladar que ela nos proporciona.
Quando se pensa que chegou ao fim das descobertas, temos uma vastidão ainda a percorrer nas possibilidades de combinações em drinks e harmonizações gastronômicas. É de dar muita água na boca!
Degustar é uma habilidade que toda pessoa de certo modo possui, mas que pode ser aprimorada, disciplinada e até mesmo desenvolvida para atingir patamares de maestria; essa especialidade que é muito aplicada profissionalmente na indústria de alimentos, tecnicamente é conhecida como a “Análise Sensorial”. Uma ciência que permite evocar, medir, analisar e interpretar as reações das características dos alimentos e materiais pelos nossos sentidos.
Pela análise sensorial em conjunto com conhecimento das etapas de fabricação da cachaça é possível descobrir e entender como foi que aquele produto degustado atingiu aquela identidade sensorial, o conjunto de sensações, sabores e aromas que resultaram naquele produto em específico e o que pode ter acontecido em cada etapa de sua produção. Esta análise também é importante para avaliar a qualidade do produto, se este obedece a critérios técnicos e confere segurança para seu consumo.
Com poucas instruções e prática, é possível distinguir se “esta cachaça é da boa” ou “da marvada”.
Nossa bebida oficial nacional merece maior atenção, pois esteve a muito tempo marginalizada justamente pela falta de critério em sua fabricação, deixando margem para que outras bebidas conquistassem o consumidor que preza por qualidade. Com a escala industrial de grandes produtores, a padronização veio trazendo uniformidade ao produto final, resgatando a credibilidade e expandindo também o conceito de qualidade e padronização aos produtores da cachaça de alambique, que aliando à normatização de órgãos como ABNT e MAPA, tornou possível garantir que uma cachaça registrada passou por um rol de critérios de seleção e avaliação para estar apta à sua comercialização com devida qualidade. Uma cachaça padrão não pode dar aquela característica dor de cabeça, sede da ressaca e nem “bafo persistente”, pois fora eliminada nas etapas da sua destilação a porção inicial e final que possuem compostos tóxicos e oleosos responsáveis por estes efeitos colaterais.
Um dos maiores tesouros da cachaça em relação a outros destilados está em seu envelhecimento, pois no Brasil com sua tamanha biodiversidade, inúmeras madeiras de manejo sustentável podem ser utilizadas para seu armazenamento e envelhecimento, abrindo um leque de infinitas notas sensoriais únicas da nossa exclusividade nacional.
E agora, quem não há de degustar?
Acompanhe aqui no Cachaciê as próximas edições trazendo dicas de como “despir“ sua cachaça e revelar seus segredos na arte de degustar um bom destilado.
Um brinde e até logo!
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